domingo, 14 de dezembro de 2008

Outras frases horríveis da música brasileira

Vânia Valerie (pronuncia-se "Valerrí") tira a poeira do toca-discos e continua com o compêndio de frases esdrúxulas do cancioneiro tupiniquim. Tenham medo.

"O bem-te-vi bem te viu, o sabiá sabia já"
Gonzaguinha em "Lindo lago do amor"




Melhor que esses trocadilhos só "E a vida, ela é MARAVIDA ou é sofrimento?", de "O que é, o que é" (a clássica: "Viveeeeeeeeeeeeer e não ter a vergonha de ser feliz..."), do próprio Gonzaguinha. Será que o sabiá sabe assobiar essas duas músicas?


"Um brinde ao destino! Será que o meu signo tem a ver com o seu?"
Cláudio Zoli (Banda Brylho) em "Noite do Prazer"



E aí, gato? Vamos colocar nossos planetas em conjunção? Tô numas de conhecer seu ascendente, topas?


"Quem dera ser um peixe para em teu límpido aquário mergulhar, fazer borbulhas de amor pra te encantar"
Raimundo Fagner em "Borbulhas de amor"



Uns chamam a "dita cuja" de "aquário", outras de "lindo lago do amor"... mas BORBULHAR é cruel, hein?



"Eu sempre me lembro daquele verão: final de novembro e você ainda não sabia se gostava de mim"
Fresno em "Uma música"




Diz a Wikipédia:

"O Verão do hemisfério norte é chamado de "Verão boreal", e o do hemisfério sul é chamado de "Verão austral". O "Verão austral" tem início com o solstício de Verão do Hemisfério Sul, que acontece cerca de 21 de Dezembro, e finda com o equinócio de Outono, por volta de 20 de Março nesse mesmo hemisfério."


Em outras palavras...


O VERÃO NÃO COMEÇA EM NOVEMBRO!!!!



" Eu não tô nem aí, eu não tô nem aqui pro que dizem, eu quero é ser feliz"
Jorge Vercilo em "Final feliz"



Ooooooooooooooooooooooooooh!


E, como tudo o que está ruim sempre pode piorar, mais um torpedo de Scandurra e Nasi:



"Um metro e 65 de sol"
Ira! em Girassol


Tia Vânia Valerie vai dar um beijo de aniversário na Giovana Vincenzi.

E desejo um GRANDE, LINDO E MARAVILHOSO 2009 pra todo mundo!

O show do Reveillón está exigindo um tempinho maior de ensaio, então, volto a passar por aqui só no ano que vem.

Mais memês respondidos, mais guardanapos da galera, mais histórias doidas!

E, antes de qualquer coisa, MUITO OBRIGADA pelo carinho de todos vocês nesse ano que passou!

Que o Barzinho siga firme e forte!








sábado, 13 de dezembro de 2008

Canja com etiqueta - galera do bar


Continuando as considerações sobre a canja, chegamos à parte mais delicada do assunto: quando aparece um bicão pedindo pra tocar uma música.




O momento da chegada e o pedido são das formas mais variadas possíveis. Algumas das mais comuns são:

- O civilizado: educadamente, a pessoa chega, no intervalo ou numa pausa entre as músicas e pede pra fazer um som.



- O terceirizado: alguém da mesa se levanta e diz "Meu amigo pode cantar uma música?".


- O tímido: variação do pedido "terceirizado", quando o tal amigo diz que não, aí todo o pessoal da mesa começa a gritar "canta! canta!" e, quando ele finalmente aceita, todos os seus amigos gritam. Na maioria das vezes, a timidez é falsa e os amigos estão bêbados.




Às vezes dá tudo certo: o cara é realmente bom, agrada ao público, toca uma ou duas músicas que têm tudo a ver com o momento do show, enfim, manda bem e todo mundo fica feliz.


Mas tem vezes em que a gente se arrepende amargamente de não ter falado "desculpa, o dono da casa não deixa". O cara é péssimo. O público em geral fecha a cara. Só os amigos (bêbados)aplaudem - pior que isso, ficam pedindo bis. Constrangimento geral e os pensamentos do músico passam pelas seguintes etapas:


- O susto ("Gente! Que horror esse cara cantando!")

- O arrependimento ("Onde eu fui amarrar minha égua!")

- A oração ("Deus, faça com que isso acabe logo e que o dono do bar não brigue comigo!")

- A invenção ("Que que eu vou inventar pra tirar esse cara daí?")

Há casos trágicos também em que um camarada, completamente alcoolizado, cisma que quer cantar uma música, cisma que quer mandar "sua mensagem" no microfone, pega o violão, quer subir ao palco fumando, faz pedido de música exatamente NO MEIO da música (e fica bravo por você não falar com ele!), enfim, as mais variadas modalidades da falta de noção.



Merece menção também o caso raríssimo do bicão famoso. Mais raro ainda é descobrir que o cara era famoso quando postam o vídeo no You Tube, mas, acreditem, pode acontecer.

Tem gente que manda bilhetes pedindo para o cara parar. Outros reclamam para o garçom ou para o dono do bar. Acreditem, é uma situação realmente chata. Muitas vezes, quando o músico acaba sendo "antipático" em não deixar ninguém tocar é por causa desses "traumas".


Canja com etiqueta - amigos e conhecidos

Canja no barzinho pode se tornar uma situação bastante constrangedora quando o Simancol está em baixa, correndo-se, inclusive, o risco de afundar o show. É pensando nisso que o Blog do Barzinho traz para vocês regrinhas básicas de etiqueta na hora de roubar a cena e o que fazer para evitar uma saia-justa maior.


1- Amigos e conhecidos que são bons músicos e dotados de simancol são bem-vindos...




... e, a partir do momento em que sobem ao palco, assumem, automaticamente, o compromisso de retribuir a canja na primeira oportunidade.

Um amigo-bom-músico-com-simancol é o cara que preenche todos os requisitos abaixo:

- não se convida para subir ao palco: só vai quando você o chama e quando está sóbrio;
- toca, no máximo, duas músicas e volta para seu lugar;
- quando vai te prestigiar em vários shows, tem o bom senso de não cantar sempre a mesma música na hora da canja, nem a que você mais gosta de cantar;
- tem uma boa performance: prende a atenção do público com boa energia e qualidade musical.

É uma excelente ocasião para cantar músicas que não têm a mesma graça quando cantadas por apenas uma pessoa: "É isso aí" (Ana Carolina e Seu Jorge), "Candy" (Iggy Pop e Kate Pierson), "Cruisin'" (Huey Lewis e Gweneth Paltrow), "Boa sorte" (Ben Harper e Vanessa da Mata), "Relicário" (Nando Reis e Cássia Eller), "João e Maria" (Chico Buarque e Nara Leão), etc. Também recomendável para músicas com backing vocal marcante de todos os gêneros.



2- Amigos e conhecidos desafinados e/ ou sem simancol

Sempre bem-vindos na platéia, mas é extremamente desaconselhável deixar que subam ao palco. Em casos extremos, há risco de perder o emprego. Caso deixe de cumprir algum dos requisitos citados acima, já deve ser afastado do palco. Vale qualquer desculpa, desde "o dono do bar não gosta/ não deixa" até "o equipamento tá muito ruim".

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Tijolos poéticos de Carlinhos Brown


De volta e chutando, Vânia Valerie (pronuncia-se "Valerrí").


No capítulo anterior, vimos algumas barbáries líricas cometidas por Nando Reis, a galera do Ira! e do Nenhum de Nós. Agora vamos a um nome que merece um post à parte. Ele toca muita percussão, é um gênio em idéias musicais... mas na hora em que abre a boca e/ou escreve letras... salve-se quem puder. Parceiro de Caetano Veloso, Sepultura, Marisa Monte, Paralamas, Daniela Mercury e mentor da Timbalda. Sim! Ele mesmo!! É o Carlinhos Brown (ou Carlito Marron?)! Analisemos várias amostras de seu trabalho para tentar achar um pingo de nexo (um pinguinho bem inhozinho já vale!!!!!) em alguma coisa que ele escreveu.




Vamos começar com a salutar frase de "Uma Brasileira", composição que os Paralamas do Sucesso gravaram em seu álbum Vamo Batê Lata:



"E esse ão de são hei de cantar naquela canção one more time".


Vale a ressalva que, na música, a frase é cantanda, primeiramente por outro mestre do non-sense da música brasileira: Djavan. Mas, voltando à vaca fria, que diabos isso quer dizer? Hum... talvez seja porque, quando estamos gripados, não conseguimos falar o "ão" direito nem cantar e, ao ficarmos sãos, conseguimos pronunciar o fonema corretamente e conseguimos cantar mais uma vez ("one more time").



Inclusive, ele evoca o mesmo estado gripal em sua letra "Vitamina Ser" (sacou o trocadilho? Vitamina C/ Ser? Hein? Hein?)



"Pente, escova de dente, remédio para gripe, lavanda e sabão".



Minha mãe também escreve isso na lista da farmácia. E ainda há na mesma música a expressão "Oxum by me". Seria isso o espirro de um orixá? Uma tentativa de buscar a mesma sonoridade de "caxumba"? A mãe das entidades está gripada e, por isso, ao invés das tradicionais oferendas ele vai à Droga Raia comprar os itens da listinha acima exatamente como minha mãe compraria? Ou estaria Brown simplesmente ensinando inglês para Oxum tornar-se um ícone religioso internacional como Jesus, Maria e Maomé (porque ninguém se globaliza falando só português e iorubá). Por que causa, motivo, razão ou circunstância ele não deixa a esposa de Ogum em paz, by herself?????




Gostaria de incluir também uma música de Brown feita "pra pular" na voz de Daniela Mercury: Rapunzel, do álbum Feijão com Arroz. A parte instrumental da música é absurdamente boa, trocentos instrumentos, um rítmo forte, um arranjo muito bem feito... mas alguém, por misericórdia, pode me dizer o que vem a ser


"No calendário é flor e anda"?


E a Rapunzel entra na história junto com Romeu e Julieta dando um grito grão no bololô e sondando o brocotó do ti-ioiô, já que no barracão tem sossego. E vamo simbora na ladeira, vamo simbora na lagoa.



Reza a lenda que o simpático peixinho da Babel Fish, depois de tentar decifrar Carlinhos Brown, pediu demissão da Yahoo.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Desafios, memês, prêmios, etc

Post especial de agradecimento à Ingrid, do Enjoy The Silence e à Bárbara, do Idéias de Bárbara.

Ingrid, muito obrigada pelo prestígio, pelo carinho... e pelo desafio. Vamos ver se vou me sair bem! Bárbara, muito obrigada MESMO pela indicação!! Foi uma honra! Não sei que prêmio é mas, se é prêmio, já fico muito feliz! Está devidamente linkada, ok?




figura do Prêmio Dardos
Quem quiser continuar a brincadeira, é só linkar o Barzinho, copiar o selo e repassar para mais 15 blogs, ok?



Vamos ao desafio da Ingrid: responder às perguntas com títulos de músicas do artista escolhido. Como sempre, a escolhida é ela:



És homem ou mulher? Mutante

Se descreva: Vira-lata de raça

O que as pessoas acham de você? Ovelha negra

Onde queria estar agora? Perto do fogo

Uma frase: Dançar pra não dançar

Como é sua vida? Nem luxo, nem lixo

Namorando, casado ou solteiro? Caso sério

O que pedirias se tivesses um só desejo? Amor e sexo

Aproveitando o clima, também faço um convite a vocês:


Mande uma foto pedindo "Toca Raul" e apareça no Barzinho!

sábado, 6 de dezembro de 2008

Traduções medonhas - Astronauta de Mármore

Eis que volta Vânia Valerie (pronuncia-se "Valerrí), em edição especial, para tratar de uma das piores traduções do nosso cancioneiro do barzinho. A saga de como "Starman" de David Bowie, virou "O Astronauta de Mármore".

Era uma vez que os fãs de Bowie sentiram vergonha alheia... mas o fato é que a tal banda se deu muito bem, sendo esse um dos seus principais sucessos. Mas, porém, contudo, todavia, entretanto, esse não é um atenuante para a tradução criminosa que eles perpetraram.





O mais brando dos aspectos do crime é o clássico erro gramatical:


"Vou lembrar do tempo de ONDE eu via o mundo azul".



Crianças... "onde" é indicativo de lugar; para indicar tempo, usa-se QUANDO. Certo professor?





Correto, Vânia!



Mas como até Vinícius de Moares deixou escapar essa em "Regra 3" ("Onde menos vale mais" - o certo seria "Em que menos vale mais"), vamos considerar isso uma passagem amena.

A parte mais assustadora da tradução em si vem agora. Pergunto-vos, senhores: como é possível que a frase original traduzida "É impressionante que você o escute também" sofra uma metamorfose tão grotesca a ponto de virar:


"As nuvens queimam o céu, nariz azul"






De onde vem o azul do nariz?? Ainda se o nariz fosse vermelho, poderíamos dizer: "quem sabe é uma analogia a um palhaço?" ou até mesmo "ah, ele é primo do Papai Noel e brinca com a Rena do Nariz Vermelho", ou ainda, "pobrezinho, ele estava muito perto do sol no espaço, não passou Sundown e ficou com o nariz vermelho" ou até mesmo "coitado, ele queimou o nariz na mesma nuvem que estava queimando o céu".






Mas azul????

O astronauta enfiou o nariz no frizzer??? O nariz de mármore do astronauta foi pichado??? É um astronauta-calouro que levou um trote e pintaram seu nariz de azul???



Ah!!! Já sei!!!!!! Vou escrever pro Marcos Pontes e perguntar se o nariz fica azul no espaço - mesmo porque ninguém ouviu mais essa música do que ele antes de voar, cantada por várias criancinhas que foram obrigadas a decorar essa letra horrível e fazer bandeirinhas na aula de Artes.







UPDATE:


Diretamente do site do "Nenhum de Nós", a versão dos réus, quer dizer, da banda:


A canção "O astronauta de mármore" é uma versão para língua portuguesa de uma canção feita originalmente em inglês pelo músico britânico DAVID BOWIE. Como nós somos fãs dele, sempre gostamos de suas músicas e resolvemos fazer a versão como uma espécie de homenagem. A letra em português - que nós mesmos fizemos - fala sobre o Major Tom que é um personagem que o próprio Bowie criou no seu primeiro sucesso Space Oddity (1969). Ele é de fato um astronauta e o Bowie voltou a escrever sobre ele em outra canção: Ashes to ashes (1981). A música original do Astronauta de mármore chama-se Starman (1971) e não fala sobre o Major Tom, então nós resolvemos escrever por nossa própria conta um novo capítulo na vida deste astronauta. Na música Ashes to ashes o Bowie colocou o problema que o Major teve com as drogas. Nós apenas colocamos a nossa visão dele sobre este mesmo problema e a sua saída dele através da fé em algo superior. A volta do espaço trouxe a ele uma nova visão do homem e de sua importância. A nossa letra faz alusões poéticas à droga e seu uso e este caminho de redenção que o Major Tom encontrou.


E aí? Quem paga o pato?

Vou... mas volto! Nos próximos capítulos, tijolos poéticos de Carlinhos Brown.




As piores frases da música brasileira - parte 1

Tia Vânia Valerrie (pronuncia-se "Valerrí") is back in town e disposta a comentar, em mal traçadas linhas, algumas barbáries da música brasileira.

Nem sempre as musas estão de bem com os poetas. Nem sempre a inspiração nos sorri e expõe seus encantos ao mundo através do artista. Às vezes, os misteriosos terrenos da criação não se mostram suaves e coloridos; mas, sim, um grande inferno de indefinições e desacertos. Moral da história: não adianta ter fama nem deitar na cama que, quando Calíope fecha a cara, guarde sua pena, poeta!




Aqui vai uma pequena compilação de frases horríveis da música brasileira. E não pensem vocês que as "pérolas" aqui enumeradas foram retiradas das músicas ditas "pra pular" - cujas letras já são propositalmente ruins porque ninguém tá a fim de papo-cabeça enquanto está pulando, fazendo coreografias imbecis e liberando endorfinas e cecê. Tem várias frases dos poetastros disfarçados de gurus da música brasileira, que são aplaudidos por pseudo eruditos e "descolados" em geral. Vamos a elas.

Começando com uma das piores da história, escrita por Nando Reis e que é tão horrível, mas tão horrível que nem a força da Cássia Eller conseguiu disfarçar o ridículo das palavras:




"Colombo procurou as Índias, mas a terra avisto em você".


Gente! O que é isso? E que ninguém venha com a desculpa de que é para dar um ar singelo e geograficamente correto! Singelo e gracioso é "estranho é gostar do seu All Star azul" - isso sim direto, simples e fofíssimo. É a frase que dá nome à música (All Star) e resume a idéia da canção: como coisas banais tornam-se tão belas quando vêm da pessoa que amamos. E, sendo essa a linda mensagem (sem ironia!), que cazzo Colombo tem a ver com isso???

O rock brasileiro dos anos 80 cometeu algumas maldades nesse sentido. Como exemplo, temos o Ira! e as frases bombásticas de Nasi, Scandurra e companhia:



"Se meu filho nem nasceu eu ainda sou o filho."





E desde quando alguém deixa de ser filho quando tem um filho? Eu até ia dizer que pode ser um daqueles casos em que a moça fica grávida antes do casamento e os pais, revoltados, expulsam-na de casa dizendo: "Nunca mais volte! Você não é mais minha filha!", mas isso não faz sentido porque a frase está no gênero masculino. Será que a palavra "avô" não tinha sido incluído no Aurélio quando eles compuseram essa música??



E quanto a passar a estrofe inteira de uma canção dizendo:



"Meu amor eu sinto muito, muito, muito mas vou indo/ pois é tarde é muito tarde e eu preciso ir embora/ sinto muito meu amor mas acho que já vou andando/ amanhã acordo cedo e preciso ir embora/ eu queria ter você mas acho que já vou andando/ outro dia pode ser mas não vai dar pra ser agora".

Parece uma tia velha e chata que você pensa que vai desligar o telefone e resolve perguntar da mãe, do pai, do vizinho, do cachorro, do papagaio. E nem adianta dizer "tchau tia, um beijo" porque ela vai perguntar tudo do mesmo jeito. Precisa levar seis frases pra dizer "tchau"???? Se é para fazer isso, que ouçam Demônios da Garoa e seu "Trem das Onze" pra saber como enrolar uma namorada na despedida com estilo!!!!





Eis que Vânia Valerrie (pronuncia-se "Valerrí") gira 180 graus e volta já já, no próximo post!


Antes do último show

A data está marcada e o tempo continua sua marcha rumo a ela. Não, o tempo não se compadece nem se culpa: ele é nada mais do que o inexorável regente do nascer e morrer.


Amanhã é o último show.


Escolheu o seu barzinho preferido. Tratou de cuidar do seu equipamento com ainda mais carinho - especialmente dos seus queridos violões e do seu amado microfone sem fio - os únicos parceiros de estrada com os quais ela sempre contou.


Ligou para que todas as pessoas que convidou para lembrá-las da apresentação. Fazia questão que todos que a acompanharam naquela carreira estivessem lá, ou dando canja ou na platéia. Tomou o cuidado de pedir a gentileza para que ninguém fumasse próximo ao palco.


Bebeu muita água e comeu muita maçã - os melhores remédios para a voz. Alongou-se como deveria ter se alongado todos os dias e antes de todos os shows - procedimentos que repetiria amanhã, alguns instantes antes de subir ao palco.


Escolheu o repertório mais querido. Não faltariam suas versões para Back on the chain gang, Pagu, Billie Jean, I'll survive, Smoke on the water, Cowboy fora-da-lei (para quando gritassem "Toca Raul"), Como nossos pais, Mercedes Benz (essa seria o grand finale) e outras.


Foi deitar-se cedo, embora soubesse que seria dífícil dormir. Repassou a vida na mente - desde quando ganhou o primeiro violão, aos 7 anos, até as dificuldades, os ensaios, as brigas... e a glória de cada aplauso. Chorou muito.


Amanhã seria o último dia antes do desconhecido.





Palma, palma, não priemos cânico! Dessa vez a historinha é pura ficção! É uma adaptação do memê que o "G.", do Salada com Farofa, gentilmente, me intimou a responder! O tema original seria "8 coisas que você faria antes de morrer" mas, pra não fugir do tema e do estilo do blog, adaptei para "8 providências a se tomar antes do último show".


Valeu, Mr. G!

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Diário de uma musicista desastrada - parte 2





dezembro/ 06

Querido diário,

Hoje fui dar uma força como "roadie" na audição da escola de música em que eu estudei - apesar de não estar mais lá, são como uma família pra mim. E, primeiro, rolou a apresentação das crianças. Depois, enquanto um pessoal cantava uma música, eu tinha que preparar o palco para as apresentações com banda dos adultos. Uma das coisas que eu tinha que fazer era tirar o teclado e colocá-lo num canto.

Sabendo das minhas "habilidades", tomei o triplo de cuidado e chequei pra ver se tinha desplugado todos os cabos, se o pedestal estava firme, etc. Mas o cabo da fonte enroscou no meu pé e eu quase tropecei e só não deixei cair o teclado pq, no reflexo, eu segurei o bicho com O QUEIXO e um professor correu pra me ajudar...

Menos mal que não deixei cair nada na cabeça de nenhuma criança! Na audição passada, bati o violão na cara de um menininho e me senti muito mal quando ele saiu chorando. A mãe dele me lançou uns olhos de ódio que me gelaram até a espinha.


novembro/ 02

Querido diário,

Que droga! Não bastasse a chateação de ter passado 15 dias com o pé engessado por causa daquele tombo da bicicleta, agora vou voltar a andar de muletas! Já estava quase curada, mas hoje tive que fazer um resgate e me machuquei de novo!

Coloquei a guitarra meio torta no suporte e ia saindo da sala, mas vi minha querida telecaster tombando lentamente. Feito um goleiro, dei aquele pulo estilo "ponte" em direção a ela, me esborrachando no chão. Ela bateu na minha cabeça, depois parou no meu ombro e não sofreu nenhum arranhão. Em compensação, eu ganhei um galo e mais uma semana andando de muletas, porque torci o pé de novo. Mas valeu a pena: o plano de saúde tem cobertura pra pé quebrado, mas não pra serviços de luthier.



segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Diário de uma musicista desastrada - parte 1




setembro/05


"Querido diário,


Hoje aprendi uma lição muito importante: no estúdio, temos que tomar cuidado com o aterramento do lugar (sabe aquelas coisas de tomada?). Estava tocando guitarra, ampli ligado, pedaleira ligada quando, sem querer, encostei o nariz no microfone. Tomei um choque que me derrubou: dei dois passos pra trás e caí de bunda no chão, com a guitarra pendurada. Meu nariz ficou parecendo o de um palhaço e riram de mim o ensaio todo, droga! Pior que isso foi sonhar com o Bozo falando:




Não encoste o nariz no microfone, amiguinho!"




outubro/05


"Querido diário,


Adorei a banda pra qual aquele amigo do primo do meu amigo me indicou! Pessoal muito legal! Bom, eu estava um pouquinho nervosa e, quando cheguei, tropecei no amplificador do baixista, chutei pedaleira do guitarrista e bati meu violão no chimbaue o case da guitarra no computador, em sequência ... mas tudo bem.


Depois de tudo pronto para começar o ensaio, vi que o cabo do violão estava enroscado no pedestal e, na hora de tirar o nó, acabei dando uma cotovelada no pedestal do microfone. Iria ser uma bela queda, mas o guitarrista conseguiu impedir. Eu também tentei segurar e, como ainda estava com a guitarra nos ombros, sem querer, bati minha guitarra na boca dele, tadinho! Mas ele disse que não doeu e também não sangrou... então fiquei mais aliviada.


Começamos o ensaio e tava tão bom que eu comecei a me empolgar e pular. Mas, como eu não tenho muita coordenação para cantar, tocar e pular ao mesmo tempo, pisei no cabo do violão e deu um estouro que quase comprometeu as caixas de som. Pluguei de novo e seguimos o ensaio.


Quando acabou a música, sem querer, chutei a garrafa de água e vi que o reflexo do guitarrista era realmente bom, porque ele tirou a pedaleira numa velocidade incrível!


Depois disso, tocamos mais umas cinco músicas e foi tudo muito bem. Parece que o pessoal da banda gostou também. Vamos ver no que vai dar."




Seu Madruga, sua vozinha também é musicista?"




sábado, 29 de novembro de 2008

Aniversário do Blog do Barzinho



Puxa vida, que desnaturada! Nem me lembrei que, no último dia 27, o Blog do Barzinho completou seu primeiro ano!



Antes de soprar a velinha, aproveito pra agradecer MUITO a todos vocês que se divertem, se distraem e se emocionam aqui. Agradeço aos novos amigos que fiz graças às histórias (todas verdadeiras) que aqui estão. Agradeço aos velhos amigos que sempre vêm dar uma forcinha aqui e aos leitores anônimos que, mesmo sem comentar, não deixam de visitar esse espaço.


Espero que tenhamos ainda muitos aniversários (de preferência, não esquecidos...) e que vocês se divirtam cada vez mais por aqui!



Rá! Tim! Bum!


UPDATE


Ganhei um presente do pessoal do Ki-Locura! Olha só!





Como o show do Canuck's foi cancelado, assim que tiver outra data legal eu volto com a promoção "Leia o Barzinho e concorra a um chope pago por mim"!

A arte de irritar um músico profissional - no show

Mais um post da série "A arte de irritar um músico profissional". Transforme o palco em um inferno seguindo as dicas abaixo!




Pô bicho, szabe que que é? Tô muito loooooooco!




Beba até perder a noção do ridículo. Erre todas as músicas. Pare o show para fazer strip-tease. Derrube cerveja nos instrumentos e equipamentos de seus companheiros de banda e no cabelo daquela patricinha que sempre fica na frente do palco. Faça do seu amplificador um trampolim. Caia em cima da bateria - ou em cima do que quer que seja. Master: vomite no palco.


Pô bicho, sabe que que é? Esqueci um negócio e vou ter que voltar pra buscar!




Sugestões de coisas interessantes que você pode esquecer para atrasar o show:

- Baterista: monte a bateria inteira e se dê conta de que esqueceu o pedal do bumbo na porta de casa. Esquecer as ferragens, os pratos, a caixa e as baquetas também são boas opções.

- Guitarrista: esqueça o cabo do amplificador. Ou melhor, esqueça o amplificador.

- Baixista: esqueça o cabo do baixo e ligue o instrumento em linha, embolando todo o som.

- Tecladista: esqueça a fonte e fique tocando meia-lua (aquele pandeirinho idiota) no cantinho do palco. Nível master se a banda for de rock dos anos 50.

- Violonista: esqueça a bateria do pré-amp e arrebente a mão tocando com toda a força.

- Vocalista: esqueça o cabo do microfone ou as pilhas do microfone sem fio. Aliás, esqueça o microfone também. Se você é daqueles que não andam sem a pasta de letras, esqueça a estante e equilibre a pasta numa cadeira.

- Violinistas/ violistas/ cellistas/ contrabaixistas: esqueçam o arco.

- Saxofonistas/ clarinetistas: esqueçam as palhetas.

- Trombonistas/ trumpetistas: esqueçam os bocais.


Pô bicho, sabe que que é? Nem rola passar o som!



"Passagem de som? Regular volume? Regular timbre? Chegar antes? Pra que isso?! Não tem mistério, é só chegar e tocar!" - diga isso com a maior naturalidade do mundo. Vá buscar sua namorada em casa, do outro lado da cidade, e chegue em cima da hora. Master: seja o responsável por levar todo o equipamento da banda.


Pô bicho, sabe que que é? Não tô me ouvindo!



Ensurdeça seus companheiros de palco e o público aumentando o volume a cada música. Encubra completamente a voz e qualquer instrumento solista. Esmurre a bateria, coloque o volume do seu amplificador no 10, queira aparecer sozinho. Master: saia no tapa com quem o mandar abaixar o volume.



Pô, bicho, sabe que que é? Esqueci esse lance da roupa!




Não vá com o figurino que a banda combinou. Vá de terno se todos combinaram calça jeans. Vá com uma bermuda camuflada, seus tênis mais velho e uma camiseta desbotada quando combinarem smoking. Vá todo de preto quando combinarem as cores (e vice-versa). Master: pegue a roupa de alguém emprestada e toque parecendo um espantalho.


Siga esses passos e faça a vida de um músico mais infeliz! É tiro e queda!


sexta-feira, 28 de novembro de 2008

"Finalmente, o Bar" - Dueto com Rodrigo Yoshizumi

E Rodrigo Yoshizumi, do Espaço em Branco, sobe ao palco do Barzinho para dar uma canja com seu texto "Finalmente, o Bar"! Rodrigo canta entre aspas, Giovana canta em itálico!


"Algumas garrafas de Heineken podem nos fazer pensar “verdadeiras verdades”. Depois de descarregar os duzentos quilos de preocupações que fizeram os meus últimos dias realmente ruins, pude ter uma hora (literalmente uma hora, logo depois da aula de Tecnologia em Rádio e TV) para relaxar em um bar."

Aceitar um emprego diurno foi uma decisão baseada em "verdadeiras verdades" medidas em números de shows desmarcados, contas a pagar e anos vividos sem a sonhada independência. Teve medo de, um dia, se ver presa naqueles montes de siglas, teclas e procedimentos. Seus últimos dias não foram ruins, muito pelo contrário. Mas dava medo de pensar na hipótese de aquela rotina, de repente, subtrair a artista de si mesma. Mas, na quinta-feira, teria 3 horas para tocar em um bar e ser simplesmente o que sempre foi (e o que sempre quis ser): uma musicista.




"As garrafas de Heineken não foram para mim (uma bela forma de contar que os meus amigos beberam também!). Só uma batida, algumas batatas fritas... mas foi o suficiente. A semana passou. Depois de cerca de 15 horas viajando de metrô, cruzando a cidade, de gastar cerca de cem reais no vale refeição, de entregar trabalhos, de fazer seminários (nada me desagrada mais na faculdade do que seminários), de trabalhar bastante, de matar algumas aulas (para fazer os malditos trabalhos), de cafés (muitos cafés por sinal, por causa das quatro horas diárias de sono), de muito estresse... A semana acabou! E novembro, graças a deus (sem conotações religiosas), também está para acabar. Junto com ele, as aulas... e o ano!"

Muita água e duas maçãs por dia. Isso é imprescindível para quem trabalha em locais com ar-condicionado. Foi a mais atípica semana de sua vida: 10 horas entre ônibus, metrôs e terminais, marmitas, seus quatro anos de estudo de espanhol e seis de inglês de volta em um minuto, cafés (muitos cafés, por sinal, por causa das quatro horas diárias de sono), do estresse que toda mudança provoca. Agora, a semana acabou! E novembro também está para acabar. Junto com ele, o ano! Conheceria, então, duas novidades: salário fixo e parcelas de décimo-terceiro. Nada mau!




"Só posso dizer que o Natal nunca foi tão sonhado para mim. Vai significar o fim do ano de 2008! Mas calma, ainda não é hora de discutir isso. Deixa para o fim de dezembro mesmo! Bom, finalmente o bar. O simbólico bar. Porque bar pode significar muitas coisas. Mas no momento, para mim, significa apenas que pude sair um pouco da minha rotina."

Não saberia se seu plantão seria no Natal ou no Ano-Novo. Seja como for, vai significar o fim do ano mais surpreendente da sua vida. Mas ainda não é hora de discutir isso. Deixa para o fim de dezembro mesmo! Bom, finalmente o bar. O simbólico bar. Porque "bar" pode significar muitas coisas; mas, no momento, significa apenas voltar à sua amada rotina.