sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008
Estréia
O frio na barriga, a secura da boca, os olhos que teimam em procurar todos os pontos, buscando um local de repouso... mas não acham. Olham tudo e todos ao mesmo tempo, num videoclipe insano, quase angustiante. Os músculos do rosto todos tensos. Alguém tem chocolate? Meu reino por um chocolate! Mas chocolate é ruim para a voz, hipótese descartada. Um chiclete, talvez? Ou melhor um Rivotril?
Melhor checar novamente: é 110 volts aqui, né? Tem certeza, né? O microfone está ligado? A mesa está com o volume, o violão está com bateria nova, o afinador está funcionando, eu trouxe a pasta com as letras? Meu Deus! O cabo do violão! Eu tirei da sacola! Acho que não pus de volta! Arranca tudo... não está na sacola! Ah não! Primeiro dia no bar e eu esqueço o cabo do violão! Bom, vou tirar o violão pra ver como eu posso microfoná-lo e... ufa! O cabo estava na capa! Então... tudo pronto?
Faltam cinco minutinhos que não passam nunca. Tento me concentrar ao máximo no aquecimento vocal e corporal... mas o casal da mesa próxima não está entendendo nada: estão vendo uma louca esticando os punhos e falando "brrrrrrrrrrrrrrr". Olham com estranheza (obviamente compreensível).
Tropeço. Derrubo a água. Bato o violão. Esbarro no microfone. Às vezes, tudo ao mesmo tempo.
Garganta seca. Mãos inquietas procurando as cordas.
Coração batucando forte, forte:
- Boa noite, pessoal! Vamos começar a trilha sonora da noite de hoje!
quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008
MPB
Tornaram-nos peças-chave de destinos incertos, pois nossos ancestrais fizeram de propósito que julgaram ser para o bem da futura nação. Hoje sinto frio no verão e dor no amor.
Sempre ouvi dizer dos seres mais escrupulosos que a noite era pra vagabundos e que ser músico era, no mínimo, a ultima opção para que um ser humano gozando plenamente de suas faculdades mentais pudesse escolher... pois bem, como os “loucos”, ditos estes inválidos pela sociedade, que não encontraram uma saída antes mesmo de entrar, decidiram meio que por obrigação ou missão divina, então esse obscuro e muitas vezes sem graça mundo musical.
Seja azul ou vermelha, mas quero a minha inspiração aqui, eu preciso, eu gosto, eu amo. Não há dúuvidas de que, se eu contar, posso estragar tudo e encobrir novamente o meu mundo com todo esse cinza predominante nesse universo paralelo em que viajo para buscar o que eu mais quero. Mas sou.
Eu desejo ter apenas o que quero, não quero mais nada além de letras unidas, acordes harmônicos e papeis riscados... opiniões construtivas e uma bossa-nova de entrada, como prato principal o bom e velho rock’n’roll e, de sobremesa, a Musica Brasileira. Juro odiar o termo do Meio – por isso que ocultei – “Popular” pois... música popular brasileira é o samba, o funk, o axé o pagode, a boa música brasileira é aquela que – infelizmente – quando toca muitos viram os narizes e dizem “ECA’’.. Vai entender esse povo CULTO...”.
Neco Vieira, 16 anos, além de um amigo queridíssimo, é também um dos melhores letristas que eu conheço. Guardem esse nome! O blog dele está recomendadíssimo na sessão "Café com letras".
segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008
Guardanapos do fim-de-semana: 22/02
-TOCA PRETEEEEEEEEEENDERS!!!!!!!
Legião Urbana (qualquer uma). Ok, tranqüilo! "Garotos"... Lenine? Não é do Leoni, não?
Valeu de qualquer forma! Acho essa música lindinha demais!
Mas esse pedido estava escondido no verso do guardanapo do Legião/Lenine e eu não o vi...
Cuma?
Especialidade da casa! Cantar Janis Joplin num rock bar é uma obrigação - e um imenso prazer.
Bom, aconteceram dois erros de "coletividade": o primeiro é que a música é do Queen inteiro... outro que é "We are the champions", mas tudo bem. Essa está sendo exaustivamente ensaiada para, gloriosamente, entrar no repertório próximo às Olimpíadas. Também estou ensaiando China Girl, do Iggy Pop (que é a único rock que fala de algo da China que eu conheço. Se alguém tiver outra sugestão, agradeço muito!)
quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008
Como fazer um músico feliz (depois de um dia muito estressante)
domingo, 17 de fevereiro de 2008
Guardanapos do fim-de-semana: 15 e 16/02
Este guardanapo dupla face chegou no finalzinho do show, já com o tempo estourado. Consegui atender apenas a parte do 365 - pedido de roqueiro oitentista com certeza! - e do onipresente "Toca Raul". Aliás, só fui ver os outros pedidos na hora de escanear o guardanapo... mas, de qualquer forma, não daria mais tempo de tocar as outras músicas. Que pena!
Zeca Baleiro em um rock bar? Hum... meio estranho, mas mudei a batida para ficar um pouquinho mais "punk", digamos assim e deixar o pessoal satisfeito. Afinal, estamos aí pra isso.
Ah, os anos 80! Mesmo sendo uma versão voz e violão de um clássico technopop, o pessoal gostou e falou "noooooooooooossa, essa tirou do fundo do baú!".
Tem coisa mais legal quando chega um bilhetinho pedindo uma banda que é a sua especialidade, com uma das músicas que você mais gosta de executar? Perdôo até o erro no nome da música (o correto é "Back on the chain gang")! O Pink Floyd eu fiquei devendo - vou procurar conhecer essa música - mas o Pretenders foi uma beleza!
Creedence ou FOO (não tem o "L") Fighters? Os dois, claro! Tinha acabado de fazer "Hey tonight" (do Creedence) quando chegou o guardanapo e, ao tocar "Learn to fly" (do Foo Fighters), qual não foi a minha surpresa ao ver que um verdadeiro sósia de Dave Grohl (líder desta banda) levantou e aproximou-se do palco! Foi hilário!
sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008
O "X-Músico"
Muitos barzinhos têm equipamento bacaninha de som, uma paga razoável, um público legal, um ambiente agradável... mas acabam pecando em uma coisa: a consumação do músico. Há lugares em que até a água é descontada do cachê.
É óbvio e ululante que ninguém espera que um dono de casa forneça uísques caríssimos, incontáveis caipirinhas e postas de caviar para os músicos. Não é isso. E também é óbvio que tem músico folgado que, se bobear, deixa um tremendo prejuízo na casa com sua consumação. A questão é equilibrar os extremos.
Em muitas casas, acontece de o dono dar uma consumação de, por exemplo, R$ 15,00, sendo que o prato mais barato (e mais chifrim) é R$14,90. Em outros lugares, nem isso: o pessoal da cozinha acaba fazendo um pão com manteiga ou com mortadela - lanche que um grande amigo meu apelidou de "X-Músico". E olhe lá.
Pode não parecer, mas a atividade musical também é um esforço físico. No caso do instrumentista, é um caso mais óbvio: é só olhar um baterista que qualquer um sabe o tamanho do esforço físico envolvido. O canto também é uma atividade que envolve um intenso trabalho do organismo: aparelho respiratório, músculos da face e da boca são exigidos num nível alto. Isso consome calorias, acreditem! E quando é um bar mais animado, em que o cantor também interage bastante com o público, dançando, colocando o pessoal pra pular, o esforço é indiscutível.
Muitas vezes, há que se chegar cedo no bar para montar o equipamento e passar o som - e quem mora em cidades com trânsito (como São Paulo) tem que sair mais cedo ainda. Por mais que nos alimentemos em casa, quando o show termina, a fome bate.
Água e um consumo razoável - sem desperdício nem muquiranagem - não dão prejuízo, vai. Regular comida é feio. Muito feio.
quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008
Violão Pró
segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008
Eles não tocam Raul
Uns levam com bom humor, contam uma piada e desviam o assunto. Mas têm uns músicos que sentem o sangue ferver quando o inevitável "Toca Raul!" se faz ouvir em meio ao público. O pai de uma amiga minha, roqueirão das antigas e fundador de uma excelente banda de covers de classic rock, chegou a fazer um discurso anti-Raul inflamadíssimo... e ainda mandou o autro do pedido tomar na rima do Raul...
A banda goiana Pedra Letícia contou uma versão da história dos que não tocam Raul. Aqui tem um vídeo da música "Eu não toco Raul" e, abaixo, a letra do hino.
Eu não toco Raul
Fabiano Cambota
Em todo bar que a gente vai tocar
Tem sempre lá no canto um cara com a barba por fazer
E a camiseta com a cara do Chê,
Um buraquinho nela onde havia a estrelinha do PT
A namorada dele você vê,
Batinha indiana, coturno, bermuda saint-tropez
Pede um papelzinho pra escrever
Tira uma caneta de dentro da bolsa de crochê
Rabisca um guardanapo com a bic azul
Escreve um bilhetinho assim: Toca Raul!
Eu não toco Raul
Vocês me desculpem...
Eu acredito quando você diz que ele é legal
Eu não toco Raul
Vocês não me culpem
A banda preza pelo estilo Sidney Magal
E aquele alquimista nada a ver
Viagens no diário de um mago, mais falso que um Menudo
Essa idolatria por Raul, parece aquela velha opinião formada sobre tudo
Não adianta implorar pro seu guru
Não adianta esbravejar: Toca Raul!
Eu não toco Raul
Vocês me desculpem...
Eu acredito quando você diz que ele é legal
Eu não toco Raul
Vocês não me culpem
A banda preza pelo estilo Sidney Magal
Mas quando eu virar um astro,
Com a minha guitarra e uma prancha do lado,
Eu quero ouvir você gritar num bar: Toca Pedra Letícia!
Eu não toco Raul
Vocês me desculpem...
Eu acredito quando você diz que ele é legal
Eu não toco Raul
Vocês não me culpem
A banda preza pelo estilo Sidney Magal
Pra quem quiser conhecer mais essa banda: www.pedraleticia.com.br e o blog do Fabiano Cambota: www.cambota.zip.net
PS: Muito obrigada ao Henrique, pela dica desta música!
Guardanapos do fim-de-semana: 08 e 09/02
Semana que vem tem mais!
sábado, 9 de fevereiro de 2008
Que luxo!!! Mais de 1000 visitas!!!!!!!
terça-feira, 5 de fevereiro de 2008
A mística do "Toca Raul!"
- Eis que nascerá em um imóvel que está para alugar em uma sociedada alternativa um grande maluco beleza. Ele venderá seu ouro de tolo para Al Capone, prometendo que irá curá-lo de seu medo da chuva. Ele irá encaminhar para o metrô linha 743 aqueles que perderam o trem das 7. Ele fará seu amigo Pedro, um legítimo cowboy fora-da-lei, passar por uma metamorfose ambulante e virar uma menina de amaralina. Ele é aquele que, no dia em que a Terra parar, há de gritar 'Abre-te, Sésamo!' e algo mágico acontecerá nesse momento.
Ao gritar, ele há de se transformar em som para que, toda vez que houver um violão, toda vez que houver um microfone, toda vez que houver um bendito dum músico se apresentando, a multidão, embalada por sua memória ancestral, há de pedir insistentemente:
- TOOOOOOOCA RAUUUUUUUUUUUUUUUUUL!!!!!!
Essa é uma piada que o pessoal da equipe do Blog do Barzinho costuma fazer em seus shows sempre que o infalível "Toca Raul!" se faz ouvir. Mas tem gente que levou isso bem mais a sério. Artistas covers especializados ganham a vida tocando só Raul. Tem uma passeata que acontece todo ano em agosto, a Passeata Raul Seixas - que, segundo os próprios participantes, é a única passeata do mundo em que ninguém reivindica nada em lugar nenhum: é apenas um grande encontro da horda roqueira de Raul. E tem até tese de doutorado sobre ele! E pra aquele que provar que eu tô mentindo, eu tiro o meu chapéu, ops, quer dizer... pra aquele que quiser conferir, aqui está o link do trabalho de Luiz Lima (autor da tese):
http://www.livrariacultura.com.br/scripts/cultura/resenha/resenha.asp?nitem=9023318&sid=20024502410123464429356860&k5=3A18F214&uid=
Mas, no ringue de "Toca Raul", quem realmente mandou muito bem foi o grande Zeca Baleiro, com essa letra muito bem sacada:
Toca Raul!
Zeca Baleiro
Mal eu subo no palco
Um mala um maluco já grita de lá
-Toca Raul!
A vontade que me dá é de mandar
O cara tomar naquele lugar
Mas aí eu paro penso e reflito como é poderoso esse Raulzito
"Puxa vida esse cara é mesmo um mito!"
Em todo canto que eu vou
Tem sempre algum grande fã do cara
É quase uma tara
Jovens velhos e crianças
Malucos e caretas
Parece uma seita
Por isso eu paro penso reflito como é poderoso esse Raulzito
"Puxa vida esse cara é mesmo um mito!"
Agora toda vez que algum maluco beleza gritar
-Toca Raul!
Eu saco esse ás da manga
Esse coelho da cartola essa carta da tanga
Essa balada-quase-rock com pitadas de forró
E nenhum sentimento blue
Pra nunca mais ter que ouvir
Alguém gritar e pedir:
-Toca Raul!