sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Luluzinhas da terceira idade

Uma amiga de um amigo meu tocava regularmente em uma rede de cervejarias dos shoppings de São Paulo. Um local ideal para sentar e conversar, sem maiores exaltações - no máximo, um pessoal um pouquinho mais "alto" que emendara o happy hour com a galera e dava umas risadas mais efusivas - no mais, um ambiente totalmente discreto. No caso desta filial em que se passa a história, a parede de vidro da cervejaria ficava de frente para a fila do cinema e, como era sábado, tanto a cervejaria quanto a fila do cinema estavam cheias.

Quando a cantora voltou para a segunda entrada, foi abordada por uma adolescente que a parabenizou e pediu-lhe para tocar "Diana", pois já havia gostado bastante da outra seleção de anos 60 da primeira entrada. E a cantora disse-lhe que seria a primeira música da próxima entrada.

Corta para a mesa perto da porta.
Um grupo de cinco velhinhas.
Super animadas.
Tomando todas.

Eu disse... TODAS.


Volta para o começo da segunda entrada.

Conforme a cantora havia prometido para a garota, tudo recomeçou com "Não te esqueças meu amor/ que quem mais te amou fui eu". E eis que aconteceu.

O Clube da Luluzinha da terceira idade, com umas 7 canecas de chopp na cabeça cada uma, arrastou a mesa, afastou as cadeiras ... e começou a dançar twist no meio da cervejaria! E foi um tal de tiazinha bater com a bunda na cabeça de quem estava sentado na cadeira de trás, foi um tal de derrubar cerveja no chão e de cantar o mais alto que o gogó agüentasse: "Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa caaaaaaaaaaaaaaaaantaaaaaaaaaaaaaaaaaaar o amooooooooooooooooooooooooor/ Diaaaaaaaaaaaana"!!!!!

No meio dessa turma havia uma velhinha japonesa, dessas bem pequenininhas, de cabelo curtinho, chapeuzinho e óculos enormes (todo mundo já viu uma velhinha japonesa assim!) e última cena que você imagina uma senhorinha dessas fazendo é cantar rock, vermelha que nem um peru (e bêbada que nem um gambá), levantando um canecão de chopp e abraçando a amiga do lado. A cantora quase entrou em colapso na sacadinha onde era o palco: pois, ao mesmo tempo que aquilo era O MÁXIMO, tinha gente olhando torto - inclusive o gerente. Quando terminou a música, antes que ela pudesse pensar em trocar de estilo, uma das "meninas", impedindo a fuga da dentadura com o dedo, não teve dúvidas em gritar:

- ANOS XEXEEEEEEEEEENTAAAAAAA!!!!

Não teve como fugir: "Banho de lua" para a galera! Ao fim da introdução, a tiazinha japonesa tirou um garçom desprevinido para dançar. A turminha da moça que pediu "Diana" quase se juntou, mas viu a cara feia do gerente que sinalizou para a cantora na sacadinha: acalma esse povo!!!!!!

E, depois do "Banho de lua", teve que rolar um "Bem que se quis" para as tias sossegaram o facho... e aí elas se comportaram o resto da noite.

Eu só falo uma coisa: eu quero mais é chegar nessa idade indo pra balada com minhas amigas e gritando para o músico:

- ANOS OITENTAAAAAAAAAAAAAAAA!!!!!!

Boca no gargalo... e pé na jaca!


Inauguramos aqui a especialidade da casa que, certamente, vai trazer as histórias mais bizarras! Afinal, á utilidade primeira de um bar é servir drinks... e, onde tem goró, tem gente que se excede e dá o seu show particular. Uns são cômicos, outros exageram e tem os que ultrapassam os limites do exagero para cair de cara no risco de vida. Fico com o coração na boca quando vejo um camarada levantar-se cambaleando com as chaves do carro na mão e, infelizmente, essa cena é não é nem um pouco rara. Então, já que todo mundo sabe que as conseqüências de uma bebedeira variam entre o mico e o trágico, vamos rir dos micos... e não nos esquecer de que ele é a última fronteira segura do porre.

Terminado o post politicamente correto, vamos rir do ridículo alheio!

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Toca aquela do...

Todo músico do barzinho faz o possível pra atender todos os pedidos que chegam nos guardanapos, papéis de promoção do restaurante ou até mesmo berrados do fundo do bar. É um prazer grande quando a gente consegue deixar o cliente feliz ao ouvir a sua música, sorrindo, cantando junto... enfim, sempre é uma satisfação deixar as pessoas contentes com o seu trabalho.





Entretanto... tem umas músicas que ninguém agüenta mais tocar ou cantar pela simples razão de que esse som tem que estar presente praticamente toda santa noite no repertório. Muitas dessas canções já têm décadas... e, há décadas, o músico a toca e canta. Eu digo pra vocês: uma hora enche a paciência e a gente tem que segurar a vontade de dizer "ah não! De novo essa música não!"


São músicas de qualidade incontestável, que muitas vezes fizeram parte de momentos importantes da história de sua geração. Muitas com harmonias fantásticas, melodias lindas , arranjos bacanas, etc. Mas é como se você tivesse que comer o seu prato preferido todo dia: por mais que você aprecie, chega um ponto em que não dá mais pra agüentar.


No entanto, sempre é contagiante a alegria do público quando a gente toca determinada canção e vê uma alegria geral pintando nos olhos de todo mundo! E, assim, a gente sempre acaba tendo uma energia renovada para mandar ver na música... e acaba transformando o tédio da milésima interpretação na satisfação de saber que o público está feliz! E, principalmente, saber que alguém vai se lembrar de um momento especial de sua própria vida a cada acorde dessa música... por mais manjada que ela seja.

Segue a lista das mais pedidas!





Chão de giz - Zé Ramalho
Garota de Ipanema - Tom & Vinícius
Meu erro - Paralamas do Sucesso
Pais e filhos - Legião Urbana
Eu sei que vou te amar - Tom & Vinícius
Será - Legião Urbana
Tarde em Itapoã - Toquinho & Vinícius
Flor-de-lis - Djavan
Como nossos pais - Elis Regina
Malandragem - Cássia Eller
É isso aí - Ana Carolina e Seu Jorge
Fico assim sem você - Adriana Calcanhoto
Garganta - Ana Carolina
Mercedes Benz - Janis Joplin
Oceano - Djavan
Se - Djavan
Te devoro - Djavan
Whisky a Go Go - Roupa Nova


... e, claro... TOCA RAUL!!!!!!!!!!!!!!!!

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Crianças na platéia 1

Eu fico realmente feliz quando vejo um menininho ou uma menininha na festa ou no restaurante onde vou tocar! Nada me deixa mais alegre do que ouvir uma vozinha falando "Oba!! Vai ter música!! O que você vai tocar? Toca uma música bonita pra mim?". Crianças na platéia te dão uma grande certeza: pode se preparar para o inusitado. Sabe-se lá como a sinceridade infantil vai se manifestar com você, mas, acredite, alguma "pérola" você vai ouvir.

Uma amiga de uma amiga minha lembra-se até hoje de que, numa noite de restaurante quase vazio, apareceu um raiozinho de luz de maria-chiquinha, vestido e sandalinhas cor-de-rosa que batia palmas e, no intervalo, pediu para a mamãe pra dar um beijo na moça que canta:

- Oi! Eu sou a Rebeca, tenho têis anos e têis tatarugas. A maior é a Pincesa e as duas pequenas são a Alóia (tradução para o "adultês": Aurora) e a Yasmin! Você gota de tataruga?

E seguiu um breve papo sobre "tatarugas" e princesas da Disney (não é fantástico saber que alguém associa tartarugas a princesas????). Breve porque logo ia chegar a hora de voltar ao trabalho - essa amiga da minha amiga é louca por crianças e tenho certeza de que, se pudesse, ia tagarelar a noite inteira com a menininha.

Na segunda entrada, a primeira música foi o tema de "A Bela e a Fera" (tirada da cartola). Aí a Rebeca quase invadiu o palco! Foi um tal de beijinhos jogados, sorrisos, muito aplausos de todo o restaurante. Sim, porque os aplausos de uma criança sempre provocam um fantástico "efeito dominó": todos que estão com a criança acabam aplaudindo também. Nisso, o casal da mesa ao lado, que até estava curtindo, mas estava com vergonha de aplaudir, se anima e bate palmas também. Aí o pessoal da mesa do fundo, que não estava nem prestando atenção, aplaude pra não ficar chato... e assim por diante!

Foi mais meia hora de pura alegria! Mas já estava ficando tarde e a princesinha acabou pegando no sono no colo do pai. A família da Rebeca foi embora antes do fim do show. A mãe deu um aceno e um efusivo "obrigada" para a cantora, a família toda também agradeceu e se despediu... menos a pequena que já devia estar no sétimo sono, talvez sonhando com a Bela e a Fera... ou com tartarugas. E a amiga da minha amiga contou que os quinze minutos finais do show sem a bonequinha parece que não tiveram nem um pingo de graça.

Epílogo

Essa cantora amiga da minha amiga ganhou do namorado um aquário com duas tartarugas. Não teve dúvidas: batizou-as como Esmeralda e Bela.

terça-feira, 27 de novembro de 2007

Couvert artístico ou esmola?

Pois é, muitos de nós, músicos, acabamos tendo que nos sujeitar a trabalhar na base do raio do "couvert artístico". Definição teórica:

"Couvert artístico é a taxa pré-estabelecida que o cliente paga pela música ao vivo e que é repassada integral ou parcialmente ao músico, dependendo do acordo feito com o dono do bar."

Posto isso, vamos aos fatos:

O fato de ter sua paga atrelada diretamente à quantidade de pessoas dentro do bar, automaticamente, joga para o músico a responsabilidade de levar clientes para o lugar. Ora, a função do músico é de entreter o público enquanto este estiver no estabelecimento. A função de divulgar a casa deve caber aos donos ou gerentes. Músico não é acessor de imprensa, pombas!

Aconteceu de um amigo de um amigo meu ter um trabalho marcado no dia do último capítulo da novela das 8. Cinco gatos-pingados no bar pra ouvir o show (sim, porque os olhos estavam grudados no telão). Saldo da noite: dez reais. Também já aconteceu de uma amiga de um amigo meu ter um show marcado no dia mais frio do ano. Três almas caridosas no bar, totalizando heróicos seis reais.

Moral da história: o trabalho vira uma grande loteria e não uma atividade segura. Como depender disso pra viver?

Claro que existem os casos de músicos que tiram mais de duzentinhos por noite, mas tenho certeza de que, o dia em que isso for mais regra que exceção, esse esquema de couvert se vai para no más volver. E digo mais: 99,99% dos músicos que eu conheço (e eu me incluo nessa porcentagem) trocariam de muito bom grado a loteria do couvert pela segurança de uma paga razoável e constante.

Pra matar o assunto:

Um amigo de um amigo meu (não o mesmo da novela) propôs ao dono da casa:

- Que tal se, ao invés de o senhor me pagar por couvert, não acertássemos um fixo?
- Mas o couvert acaba dando mais grana que um fixo! Vai ser melhor pra você! A casa bomba!
- É mesmo? Então o porque o senhor não acerta um fixo comigo e fica com o couvert para a casa?
- Ah, mas aí pra mim não compensa... vai que a casa não enche...

Contra fatos, não há argumentos. Couvert é uma esmola de nome chique que tem muito mais cara de "exploração" que de "parceria".





Desce mais um chope escuro.

O Blog do Barzinho

Abrindo as portas, colocando as cadeiras na rua, gelando a breja e saindo a primeira porção.

O Blog do Barzinho é uma idéia que acabou de me dar na telha, enquanto tirava músicas novas para cantar na sexta num - dããããã - barzinho.

Todo papo de barzinho tem trocentas histórias... e todo músico que toca em barzinhos tem trocentas ao cubo histórias, dado que toca em vários ditos cujos ao longo de sua carreira/ vida. Então, decidi colocar algumas aqui. Todas as histórias aconteceram com "amigos de amigos meus" e valho-me do eu-lírico alheio como um compositor se apodera do samba que está no ar. Então, aí estão no cardápio histórias ora engraçadas, ora inacreditáveis, ora estranhas toda a vida.

Como nem tudo são flores, também colocamos um pouco a boca no microfone bem alto (onde já se viu trombone no barzinho?) e sem medo do vizinho chamar a polícia pra deixar bem claro que nem sempre chega ao paladar do público o quanto a maionese desanda no meio do caminho.

Espero que os vizinhos não reclamem do barulho, que a prefeitura não lacre e que eu não perca nenhum emprego...