Estava atrasadíssima. Deveria estar em Perdizes às 19:00 e, às 18:30, mal tinham conseguido chegar à metade do caminho. Nunca iria dar tempo. A bateria do celular já tinha dado seu último suspiro e ela não tinha como ligar para avisar. Talvez perdesse o emprego. E, durante todo o trajeto, dá-lhe tentar convencer que não era uma hora adequada para a velha ladainha de "você dá-mais-atenção-pro-violão-que-pra-mim".
Nem pensou em recusar o convite para tocar naquele casamento. Era um bom dinheiro: dava pra pagar certinho a parcela que faltava do computador. Se desse tudo certo, conseguiria sair de lá e chegar ao barzinho em cima da hora. No máximo, uns dez minutinhos de atraso - que ela compensaria no final. Mas não deu tudo certo...
Na verdade, o correto seria dizer que deu certo até demais porque o pessoal da festa gostou tanto que ficou pedindo "mais um! mais um!" e, quando ela viu, já tinha passado muito da hora de parar. O namorado, que insistiu em ir buscá-la no buffet para levá-la ao barzinho, acabou esperando um tempão na porta. Não adiantaram os pedidos de desculpas, não adiantou explicar que estava trabalhando e seu atraso não foi gratuito... ela sempre era a errada, a egoísta, a egocêntrica...
Quarenta minutos depois do previsto, finalmente chegaram ao bar. Tomou uma merecidíssima bronca do gerente. Para tentar consertar, disse que tocaria sem intervalo. O gerente aceitou e lá foi ela.
Estava esgotada. As mãos doíam, os dedos não obedeciam direito, a garganta secava com uma freqüência muito maior. Havia tocado do meio-dia às seis, com duas paradas de quinze minutos. E, muito mais cansativo que tudo: uma hora e meia de trânsito e discussão. Seriam longos minutos até às onze horas.
E, quando parecia uma noite perdida...
Agradeceu imensamente com muitas lágrimas nos olhos. Disse que jamais poderia retribuir com um desenho à altura, pois era péssima com os lápis de cor. Então, dedicou-lhe "Aquarela". Chorou na parte do "... que descolorirá". A Gabriela não entendeu muito bem o porquê das lágrimas, mas aplaudiu maravilhada e fez a família inteira aplaudir, desencadeando o efeito dominó: mesa por mesa, todo o bar aplaudiu essa música e todas as seguintes. Rolou aquela química gostosa entre artista e platéia e foram uns dos melhores shows que ela já havia feito.
Ah, Gabriela... já te disseram que você tem nome de anjo?
Epílogo
Pouco tempo depois, o cara disse: "Ou eu, ou a música!". Ela nunca mais o viu depois desse dia.
5 comentários:
Nada como a eterna inocência infantil e a soberania feminina;
Hahaha que perfeito, Um voto pro ''ela'' da história.
Se todos os homens tivessem ao menos esta atitude..
E se todos os humanos depois de um dia stresante de trabalho tivessem este anjo mirim pra vos acalmar.. o mundo seria.. PERFEITO.. como a musica que a cantora cantou.
Hay los que no creen en los angeles, pero que los hay, los hay... né, sobrinho? :o)
quanto ao meu recado:
Hahah melhor letrista... ah vai.. não exagera..
dali a pouco estará dizendo como o Poeta '' te trago MIL rosas ROUBADAS''
HAHAH
EXAGERADA..
ahh..
Quando o mundo era interessante?
Acho que ele sempre pode ser interessante, basta quem quer se interessar...
Bjuz
Mulheres e crianças..... o que mais pode ser tão inspirador?
Muito legal o post!!!
:*
Edson
Tanbém sou amante da música e acredito que escolher entre um companheiro e a música deve ser Complicado, mas o amor fala mais alto ;) Obrigada pela visita ao blog!
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