sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Chique

Proposta simplesmente irrecusável. Nunca tinha visto tanto dinheiro por uma apresentação.

Levaria seu equipamento, montaria tudo com calma, faria seus intervalos e tocaria na inaguração daquela butique chiquérrima por algumas horas.

Uma chuva torrencial castigava São Paulo (e São Paulo com chuva é um desânimo só). Chegou na hora marcada, decidiu, junto com o gerente, onde ficar ("próximo à parte dos biquínis ou perto da cafeteria?"), mudou de lugar depois de montar tudo ("perto da cafeteria é melhor") e estava morrendo de medo de que uma rajada de vento mais forte trouxesse consigo um pé-d'água e molhasse suas caixas de som... mas a chuva parecia ter estabilizado naquela garoazinha pentelha que só serve pra estragar a chapinha.

Falando em chapinha, todas as mulheres que passaram por lá fizeram uso dela - e, claro, todas chegaram cobrindo os cabelos de alguma forma. Não eram muitas: a chuva e o trânsito, de fato, esfriaram a inauguração.

O tempo parecia parado. Nenhum aplauso, poucos olhares, pouquíssima empolgação. Mulheres passando, de vez em quando, experimentando sapatos, jóias e casacos. Um pedido de música: "Como nossos pais". Cantou muitíssimo bem e recebeu meia dúzia de palmas.

As entradas passaram se arrastando. Sabia que não poderia competir com brincos de diamante e casacos exclusivos. Parecia invisível, era uma máquina de som ambiente e nada mais. Por incrível que pareça, isso é muito mais cansativo do que um show em que o músico se empolga e dança sem parar. Mais cansaço e muito menos prazer.

No fim da tarde, recebeu sua excelente paga. Sorriu com o cantinho da boca. Ouviu elogios do dos donos e das vendedoras... e aí sorriu de verdade.

Um músico não pode viver nem só grana, nem só de aplauso. Quando falta um dos dois, tem algo errado.

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