segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Bêbados narradores

Um dos grandes clássicos do barzinho é o cara que "narra" a música.

Geralmente, a "saga" começa por volta de 1:00 manhã, quando já deu tempo para o álcool fazer aquele tour básico pela corrente sangüínea e chegar à cabeça. Na maioria das vezes, começa quando o músico anuncia que vai fazer uma música pedida por alguém. Aí vem aquela inconfundível voz pastosa falando:

- ÔÔÔÔÔÔÔÔÔÔÔÔ!!!!!! Essa é boa!!!!!!! Manda essa!!! Manda essa!!!!

Começada a canção, o figura "canta junto" marcando as sílabas apontando com o indicador para o chão (e, claro, segurando o copo com a outra mão), olhando para seus amigos e para o cantor. O "canta junto" está entre aspas porque, invariavelmente, o camarada troca a letra, canta antes ou canta depois, fazendo uma espécie de eco (que atrapalha o cantor toda a vida). Finalmente, antes do refrão ou uma parte mais conhecida, ele anuncia:

- AGOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOORA!!!!!!

Da segunda parte da música em diante, ele, geralmente, fala o AGOOOOOOOOOOOOOOOORA antes de toda estrofe, podendo introduzir variantes como o COMÉQUIÉÉÉÉÉÉ e o VAAAAAAAAAAAI. Às vezes, a criatura dirige o olhar a mesas de desconhecidos, como que para conferir se todos estão cantando toda vez que ele grita suas "palavras de ordem" acima citadas. Se o pedido da música que está rolando foi feito por uma outra mesa que não a dele, certamente, nesse olhar ele tenta procurar o autor do bilhetinho, feliz da vida, cantando junto, grato por aquela pessoa ter pensado naquela canção e feito esse pensamento chegar ao cantor, buscando sua cumplicidade, mas nem sempre a encontra.

Já me aconteceu de receber um guardanapo de um casal com um pedido de uma música da qual não me lembro agora. Mas lembro perfeitamente que, quando a cantei, tinha um "Galvão Bueno" de plantão fazendo a narração de todas as frases, cantando-as antes de mim. A cara de desaprovação do casal dizia tudo. Depois que o "narrador" foi embora, o moço, educademente, dirigiu-se a mim dizendo:

- Você se importaria de cantar mais uma vez a música para nós a ouvirmos sem a interferência do "rádio em uma outra estação" que estava na mesa ao lado?

E eu cantei.

Tem uns que, de tão chapados, pedem para tocarmos mais uma vez a mesma música em seguida! E dá-lhe jogo de cintura para fazer a informação chegar ao alcoolizado cérebro do nosso personagem em questão.

Para encerrar, uma das mais clássicas das letras "comentadas": É hoje

É hoje

A minha alegria atravessou o mar e ancorou na passarela (ÔÔÔÔÔÔÔÔÔÔÔÔ!!!!!!)
Fez um desembarque fascinante no maior show da Terra (Essa é boa!!!!!!!!)
Será (O QUE?) que eu serei o dono dessa festa (O REI!)
O rei (O REI! O REI!) no meio de uma gente tão modesta
Eu vim descendo a serra (VAI!)
Cheio de euforia para desfilar
O mundo inteiro espera (O QUE)
Hoje é dia do riso chorar (AGOOOOOORA)
Levei o meu samba pra mãe de santo rezar (EAÍ)
Contra o mau-olhado eu carrego meu patuá (LEVEI!)
Levei o meu samba pra mãe de santo rezar (VAI!)
Contra o mau-olhado eu carrego meu patuá (ACREDITO!)
Acredito ser o mais valente (AGORA HEIN)
Nessa luta do rochedo com o mar (AGOOOOOORA)
E com o mar (COMÉQUIÉÉÉÉÉÉ)
É hoje o dia (DE QUE?)
Da alegria
E a tristeza (AGORA!!!)
Nem pode pensar em chegar (AGOOOOOOOOOOOOOOOOOOORA!)
Diga espeeeeeelho meu
Se há na avenida alguém mais feliz que eu (DIGA ESPELHO MEU!)



É, minha gente... a rapadura é doce, mas não é mole!

2 comentários:

Neco Vieira disse...

Olha, você se expressa tão bem quandoe screve, que eu to aqui quase encenando um bebado narrando as músicas, e ''animando'' o povo...



Inda bem que eu não fico bebado!

Alben disse...

meus parabéns pelo blog fera, caí aqui de paraquedas, mas curti pra caramba!

(as vezes eu sou esse bêbado macado de auditório)